SANTA CATARINA – Setembro Amarelo: saúde mental na escola é tema de seminário virtual que encerra ciclo de eventos do MPSC
O último dos três eventos on-line alusivos ao Setembro Amarelo promovidos pelo Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) debateu, nesta quarta-feira (23/9), em transmissão ao vivo pelo canal do MPSC no YouTube, saúde mental de crianças e adolescentes na escola. O seminário virtual “Acolhida e manejo do sofrimento de crianças e adolescentes na escola” encerrou o ciclo de encontros da campanha “Distantes, mas juntos”, que abordaram o cuidado com a saúde mental e medidas preventivas em tempos de pandemia.
Debatendo ferramentas de acolhida, estratégias de fortalecimento de laços na escola e entre a escola e a comunidade, participaram do encontro a psicóloga Maria Carolina da Silveira Moesch (UNOCHAPECÓ) e a pedagoga Luciene Regina Paulino Tognetta (FCLAR/UNESP). As convidadas abordaram também os fluxos intersetoriais para o apoio às equipes da rede de proteção, uma vez que a perspectiva do retorno às aulas em meio à pandemia amplia o desafio de trabalhar o sofrimento de crianças e adolescentes manifesto na escola.
O evento
A psicóloga Maria Carolina da Silveira Moesch, que também faz parte da equipe do programa “Tamo Junto”, em Chapecó, falou das estratégias desenvolvidas para crianças e adolescentes que já eram atendidas pelo projeto e vivenciam situações de violações de direitos. Com escolas fechadas e serviços relacionados da rede de atenção à infância e adolescência com atendimento limitado em função da pandemia, foram buscadas estratégias que pudessem aproximar e manter a assistência e o suporte psicossocial para esse público.
“Vivenciamos outras crises dentro da crise. Outras crises que vão amplificar situações que já existiam, como violação de direitos. É importante estar próximo e ações em apoio psicossocial, justamente para se identificar quem precisa de atendimento especializado em saúde mental e aqueles que podem ser trabalhados em modo de promoção e prevenção em saúde mental”, explicou. A palestrante ressaltou o aspecto ético-político do adoecimento mental, que não deve ser visto apenas com um fator individual, mas atravessado por determinantes sociais, afirmando que problemas coletivos devem ser tratados de forma coletiva.
Maria Carolina falou ainda sobre a construção de um aplicativo que oferece atividades síncronas – aquelas realizadas de modo online e que permitem interação em tempo real, como webconferências e chats, e assíncronas – realizadas em ambientes virtuais de aprendizagem, como fóruns e correio eletrônico para crianças e adolescentes e que permite acionar serviços de atenção psicossocial. Além disso, falou sobre o espaço “Ventilação de emoções”, que quinzenalmente avalia o trabalho desenvolvido pelos professores e proporciona um espaço de compartilhamento e acolhida.”
Em sua fala, a pedagoga Luciene Regina Paulino Tognetta destacou como as desigualdades foram aprofundadas com a pandemia e o papel da escola como parte da rede de proteção. “Crianças e adolescentes precisam de um cuidado especial, não podem ser tratados como adultos”, disse a pedagoga, referindo-se aos problemas de convivência que não são recentes, mas muito anteriores à pandemia. “Isso significa que o tratamento especial, ainda que necessário neste momento, diz respeito a algo que não deve ser apenas pontual. Precisamos de estratégia de trabalho que organize dentro da escola um programa de convivência que, de fato, tenha sentido para dar conta dos problemas que as crianças vivem neste momento e em outros momentos em que também venha a se sentir angustiada, triste ou discriminada por seus pares”, explicou.
Sobre o espaço escolar, Luciene ressaltou que a escola faz parte de uma rede de proteção. “A escola deve ser um lugar de bem-estar, onde crianças e adolescentes se sintam bem, pertencentes e protegidos. Quando me sinto pertencente e participo do planejamento, organizo as regras que regulam as convivência e discuto os problemas que existem entre os colegas, eu me sinto pertencente àquele espaço e me sinto bem. Assim a escola passa, então, a ser um órgão de proteção”. Segundo a pedagoga, os métodos utilizados no dia a dia para a resolução de conflitos precisam ser repensadas como estratégias para minimizar os impactos desse momento. Nesse sentido, ressaltou também a importância do apoio entre os pares, principalmente entre os adolescentes.
A condução do seminário foi realizada pelo Promotor de Justiça e Coordenador do Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude, João Luiz de Carvalho Botega, que lembrou que a acolhida dessas crianças e adolescentes pode ser feita antes, durante e depois do retorno às aulas. “O acolhimento psicossocial, como um processo que não se esgota em apenas um contato ou uma atividade, pode e deve ser realizado por todos, professores e equipes pedagógicas, além de articulação com os serviços de saúde”, finalizou Botega.
Outros seminários
Além deste evento, foram realizados mais dois seminários virtuais, nos dias 8 e 14 de setembro, respectivamente com os temas “O cuidado em saúde mental e o manejo do luto: profissionais da saúde e trabalho articulado” e “Boas práticas em saúde mental de adolescentes e pessoas idosas: cultura e laço social”. Nas mídias sociais, o MPSC continuará apresentado durante todo o mês orientações de saúde física e mental, abordando um dos paradoxos da pandemia: cultivar a proximidade e o cuidado diante da necessidade da distância.
Desde 2014, setembro é considerado o mês de referência para campanhas de conscientização e prevenção ao suicídio. No MPSC, instituição que atua na defesa dos interesses da coletividade e na indução de políticas públicas, o “Setembro Amarelo” é pauta de um grande evento anual desde 2015.
Em 2020, a necessidade de discussão sobre a COVID-19, doença que registra no mundo uma morte a cada 40 segundos, cresce ainda mais. Com o confinamento, a distância de amigos e parentes, o luto das perdas e o intenso fluxo de informações diárias, manter a saúde mental tem se tornado um desafio cada vez maior.
A ideia desta edição do Setembro Amarelo do MPSC foi aprofundar e ampliar o alcance das discussões e estratégias de cuidado em saúde mental e prevenção ao suicídio, divulgando informações sobre autocuidado, rede de proteção e boas práticas que promovem saúde e previnem agravos do sofrimento, sobretudo em tempos de pandemia e pós-pandemia. Os eventos podem ser conferidos na íntegra no canal da instituição no YouTube.
Ofereça e procure ajuda
Oferecer atenção e acolhimento e estar disponível para conversas sem julgamentos podem parecer pequenos atos, mas, na verdade, são ações que fazem muita diferença na vida de alguém que passa por momentos difíceis. Por isso, se você pode, esteja atento e ofereça carinho às pessoas ao seu redor, mesmo que remotamente.
Se você sente que necessita de suporte emocional para si, ou conhece alguém que dê sinais de que precisa de mais ajuda, entre em contato ou indique o Centro de Valorização da Vida. O CVV é uma iniciativa gratuita que funciona 24 horas por dia oferecendo apoio emocional especializado. Ele pode ser contatado por chat no site, por e-mail ou pelo número 188.Você pode também buscar orientação junto a um profissional de saúde ou alguém de sua confiança. Não isole seu sofrimento!